É um dos musgos mais comuns e amplamente distribuído no mundo e é usado como espécie modelo para o estudo elementar das briófitas, surgindo recorrentemente em livros didáticos sobre biologia para demonstrar o ciclo de vida de um musgo.
Forma tufos até 3 cm de altura, extensos, densos e verdes. Os caulóides (pequenos caules) são rectos, simples ou ramificados e os filídeos (pequenas folhas) superiores são imbricados e côncavos. Este musgo passa despercebido quando estéril, porém, quando fértil, é fácil de reconhecer, pois produz grande quantidade de cápsulas. As cápsulas maduras são de cor laranja-acastanhada, assimétricas, oblongo-piriformes (forma de uma pêra), inclinadas e fortemente sulcadas quando secas, podendo ser observadas até ao final do outono. As sedas, hastes que sustentam as cápsulas, podem atingir até 5 cm de altura e torcem em estado seco como um cordão, daí o nome do género Funaria - do latim funis, que significa corda. O nome hygrometrica refere-se à natureza higroscópica da seda, ou seja, como a seda enrola ou desenrola com mudanças de humidade. Estes movimentos giratórios da seda com a humidade acabam também por favorecer a dispersão dos esporos.
É uma espécie pioneira de solo, pobre ou rico em nutrientes, que se encontra facilmente em terra de jardins, campos e muros. Coloniza preferencialmente solos submetidos a perturbações, ricos em nitratos e minerais, tais como fogos ou a presença de gado. No Parque Biológico, é possível observar esta espécie em solo húmido.
Tipicamente, este musgo é usado como indicador de perturbação recente e coloniza rapidamente o solo após os incêndios, daí o nome comum de musgo pioneiro pós-fogo. Para além desta espécie, existem outras espécies de musgos com esta capacidade de colonizar o solo ardido. Sem nos apercebermos, estas pequenas espécies desempenham um papel ecológico fundamental e estão de facto ao serviço dos ecossistemas e do bem-estar humano, ao reduzir a erosão do solo, auxiliando na acumulação de solo e humidade e criando condições para o aparecimento de outras espécies. Afinal, até na natureza, existem as espécies de camisola amarela, que preparam o caminho para as seguintes.
E para surpreender ainda mais, há estudos recentes que tentam determinar a viabilidade técnica e económica da introdução deste tipo de musgos em solos sujeitos a incêndios, de modo a acelerar a regeneração pós-fogo. Outro estudo realizado no Japão, sugere que a F. hygrometrica poderá ser um biomaterial útil na mitigação da toxicidade de chumbo em águas residuais, já que o protonema, uma estrutura filamentosa originada a partir da germinação dos esporos desta espécie, absorve uma quantidade impressionante de chumbo da água. Desta forma, este musgo pode ser um acumulador eficiente de metais pesados e pode ser uma alternativa verde para a descontaminação de água e solo poluídos.
Ainda há dúvidas acerca da importância e utilidade dos musgos?
Texto: Helena Hespanhol (CIBIO/INBIO-UP) e Cristiana Vieira (MHNC-UP). Fotos: Cristiana Vieira (MHNC-UP).
Fonte - Revista «Parques e Vida Selvagem» n.º 54.
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