Na lista do Parque Biológico de Gaia estão dadas como observadas quatro espécies do género Turdus.
Contudo, afirma Rui Miguel Brito, biólogo e anilhador científico credenciado, “o tordo-ruivo, Turdus iliacus, é presença assídua apenas nos primeiros meses de cada ano, em pleno inverno”.
Com base nos anos de anilhagem científica, “a espécie parece apresentar uma tendência de diminuição, tendo o pico da sua captura ocorrido no ano de 2016, o único em que foram capturados indivíduos ao longo de três meses, tendo sido registada a primeira e única captura até à data de um indivíduo em dezembro”, adianta o coordenador das sessões de anilhagem que decorrem no parque há já 17 anos.
A análise do gráfico, esclarece que “a espécie foi capturada em 10 anos, não tendo isso acontecido nos sete anos restantes. Dois destes anos podem condicionar os dados, pois correspondem aos anos da pandemia (2020-2021)”.
Verifica-se que “aparentemente há um aparecimento da espécie mais cedo do que o que ocorria no passado. Assim, nos primeiros anos, até 2015, a espécie ocorria com maior frequência no mês de fevereiro, em particular na sua segunda quinzena, e nos anos mais recentes, a tendência é mais em janeiro ou em fevereiro na sua primeira quinzena”.
O que pode explicar esta tendência?
“Uma das hipóteses que os dados sugerem”, diz Rui Brito, “é que as aves deverão estar a ocorrer mais cedo na área – a espécie ocorre em Portugal entre outubro e março – e usam o Parque Biológico como zona de alimentação e/ou concentração pré-migratória, antes de rumarem aos seus territórios de reprodução no Norte da Europa, em março”.
É certo que “os dados aqui apresentados precisam de mais tempo para se robustecerem”. Ainda assim, “vão de encontro ao que se verifica noutras espécies que estão a antecipar as suas migrações. Este resultado é curioso e levanta diversas perguntas. Com a continuação deste trabalho e mais resultados de anilhagem iremos tentar responder”.
O tordo-ruivo é a espécie de tordo mais tímida e esquiva que ocorre no Parque Biológico: “Ao contrário do tordo-comum, Turdus philomelus, residente e reprodutor, ele apenas ocorre nos frios meses de inverno, sendo uma espécie exclusivamente invernante na área, e em Portugal. A sua abundância é muito variável de ano para ano, podendo ser muito comum em certos anos e bastante rara noutros”.
Além do tordo-ruivo, as outras espécies do género Turdus que já foram observadas no parque é o tordo-comum (Turdus philomelus), a tordoveia (Turdus viscivorus) e o melro-preto (Turdus merula).
Fica um apelo: “Tal como todos os tordos, o tordo-ruivo é abatido em números elevados por caçadores. Este facto constitui mais uma dificuldade na avaliação da situação real da espécie e dos seus comportamentos”. Por isso, “para compensar essa situação apelamos a todos, caçadores ou não, que sempre que encontrem ou abatam uma ave com anilha comuniquem os dados da mesma. Basta retirar a anilha e enviá-la com a data em que foi recolhida e o local. Alternativamente, pode enviar o código da mesma e os restantes dados para o nosso grupo de anilhagem ou para a Central Nacional de Anilhagem do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas”.
As sessões de anilhagem têm lugar no Parque Biológico de Gaia geralmente nas manhãs dos primeiros e terceiros sábados de cada mês, sendo realizadas pelo GAOP – Grupo de Anilhagem e Ornitologia do Porto. Os visitantes do parque podem observar a colheita de dados biométricos e a libertação das aves ao passarem na quinta do Chasco, durante o passeio que o percurso de descoberta da natureza proporciona.
| Gráfico: indivíduos por mês de captura
