A Reserva Natural Local do Estuário do Douro (RNLED) situa-se na margem Sul do rio Douro, no concelho de Vila Nova de Gaia.
Além de conservar uma significativa riqueza em biodiversidade e englobar uma área
de 62 hectares, é um importante local de descanso, alimentação e abrigo de muitas espécies de aves migradoras (com destaque para o grupo das Limícolas - grupo de aves que vivem nos estuários, praias, rios e lagoas) que se deslocam ao longo da costa atlântica.
A RNLED apresenta uma frente costeira, uma restinga dunar designada por Cabedelo, uma zona interior de características estuarinas e também um sapal.
A classificação como Reserva Natural Local - regulamento publicado no Diário da República, 2.ª Série, n.º 131 de 10 de julho de 2018 (Regulamento n.º 415/2018) - torna possível uma apropriada e concertada proteção, bem como a possibilidade de efetuar melhorias no local no sentido de obter acréscimos na valorização da área como refúgio de biodiversidade.
O estuário está integrado na Rede Nacional de Áreas Protegidas, pelo que representa desta forma um contributo relevante para os objetivos europeus de preservação da biodiversidade e também para o desenvolvimento local, pelo facto de ser uma zona de usufruto público devidamente recuperada.
Ao visitar a RNLED conta com dois observatórios acessíveis por passadiço e uma zona de acesso condicionado (ZAC), sendo esta a melhor forma de garantir que todos possam usufruir do espaço com o mínimo de perturbação, garantindo que as espécies permaneçam – é importante que todos compreendam que se lida com espécies selvagens livres, num espaço restrito.
A baixa perturbação é determinante para tornar este espaço mais “apetecível” para a fauna que ocorre e permanece, com destaque para as aves migratórias. A RNLED tem como prioridade assegurar condições de tranquilidade e permanência necessárias à utilização continuada da avifauna migratória e nidificante e a preservação da vegetação dunar.
A visita não será monótona. Dispondo de inúmeras possibilidades de usufruir de um espaço natural rico em fauna e flora variada, é certamente um ponto de referência atual para todos aqueles com disposição e interesse em sair da rotina do dia a dia e olhar para o “mundo natural” que nos rodeia.
É um local a visitar onde individualmente se pode enriquecer com várias percepções sensoriais associadas à paisagem: visuais (cores, tons e intensidades luminosas e fauna e flora), auditivas (sons ambientes, vento, animais, mar e rio), olfativas (odores marinhos e aromas das plantas dunares e outras).
O litoral de Gaia possui na Reserva Natural Local do Estuário do Douro uma zona de grande valor como local e nidificação do borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus), única espécie de limícola que nidifica na zona costeira e cuja população da Europa Ocidental se encontra em declínio e ameaçada. Trata-se de uma espécie associada à linha de maré e meio dunar, sensível às perturbações humanas.
Na RNLED é importante referir a importância de outros grupos faunísticos que representam uma componente fundamental na biodiversidade local.
Destacam-se entre os invertebrados várias espécies de insetos, tais como formigas e vespas (Himenópteros) escaravelhos (Coleópteros) e borboletas (Lepidópteros).
No que respeita à flora, a RNLED apresenta uma área com vegetação dunar e de sapal, existindo espécies de grande valor ecológico, tais como o cardo-marítimo (Erygium maritimum), o sapinho-da-praia (Honkenia peploides), a silene-do-porto (Silene portensis) e o endemismo lusitânico, botão-azul (Jasione maritima var. sabularia).
Outros aspetos relevantes
Há também a referenciar na RNLED o elemento geológico com a presença de interessantes afloramentos graníticos porfiróides biotíticos (granito de Lavadores com grandes cristas de feldspato de cor rosada). A presença destas rochas graníticas Hercínicas de idade Pré-câmbrica/Câmbrica (500-600 milhões de anos) é semelhante ao granito do Porto.
Aspetos culturais e históricos
Os testemunhos da presença humana na área do Cabedelo remonta à Antiguidade, existindo na RNLED um sítio com valor arqueológico, constituído por penedos com algumas gravuras antropomórficas que poderão estar associadas à presença Viking ou Normanda nos séculos IX e X d.C.
Há ainda a destacar o Molhe Luiz Gomes de Carvalho, implementado em 1820. Chegou a atingir 616 metros de comprimento e pretendia facilitar a navegação no canal de acesso ao mar. Não chegou a ser concluído, no entanto, foi mantida a conservação da sua estrutura até hoje.